quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

The Subways - Strawberry Blonde



Eu te fiz um pingente de clips de papel uma vez. 

Eram três clips amontoados uns nos outros de um jeito bonitinho, pra fazer você se apaixonar perdidamente por mim. 

E eu ia te contar meu amor quando entregasse o embrulho enrolado num laço de fita vermelho, e meu coração doía de bater tão rápido assim na vontade de ver o que ia acontecer quando eu fechasse seus olhos e dissesse que tinha uma surpresa pra você. 

Eu rezava toda noite pra que o seu amor pudesse ser meu também. Pra que você sorrisse e me desse um daqueles beijos épicos de fim de filme e não largasse de mim nunca mais, nem tirasse da correntinha de prata do seu pescoço o pingente que eu tinha te feito pra guardar nosso segredo. 

Gastei uma madrugada inteira queimando meus dedos pra modelar e colar clipzinho por clipzinho com o isqueiro velho que eu tinha roubado da senhora que vinha semana sim, duas não lavar a roupa na casa da vizinha. 

Ela sempre fumava no batentinho da calçada, aquele que tinha os nossos nomes gravados no cimento. Meia carteira de cigarros, uma xícara bem cheia de café fervendo e a velha mesma história sobre o moço garboso do cais, de mil anos atrás, a quem prometera um amor eterno em troca do par de meias roxas horrível que ele calçava. 

Semana sim, duas não - lá estava ela descançando as costas de uma tarde inteira lavando a roupa suja de gente que nem sabia seu nome, calçando as mesmas meias roxas nos pés. Porque o moço garboso do cais, de mil anos atrás, poderia ter voltado do mar e ainda estar procurando depois de todo esse tempo, o amor eterno que lhe prometera antes sequer de conseguir dizer seu nome. 

Tudo que ele tinha para encontrá-la eram suas meias roxas. Então eu pensei que a gente pudesse ter uma história que nem essa pra eu contar pros meus netos quando a saúde, ao contrário da saudade, já não abundasse tanto assim. E eu gastei uma madrugada inteira de sono num pingente - que nem era tão bonito, pra te ser sincera, que mal valia dez centavos - pro caso de um dia a gente se perder um do outro, eu poderia rodar o mundo um pescoço de cada vez, procurando a correntinha de prata que carregava meu universo todinho que eu entreguei de bandeja pra você ostentar. 

Mas você nunca recebeu o pingente de clips de papel. O embrulho enrolado no laço de fita vermelho nunca me saiu da mochila ou da lembrança. Nem eu consegui te fazer apaixonar perdidamente por mim. 

Porque na hora que eu tomei toda aquela coragem épica pra conseguir abrir a boca e te dizer pelo menos "Olá", cê chegou, todo lindo, me sorrindo aqueles dentes bonitos e retos, com a mão de outra moça segurando a sua, pra me dizer que tava namorando, pra me falar nas entrelinhas mas em letra de forma que nunca ia ser meu. Pra me mostrar que ninguém em sã consciência, troca um amor pela garantia de um par de meias roxas que nunca vai procurar - mesmo que eu continuasse colecionando clips de papel pra guardar o nosso segredo que foi só meu, pro resto da vida. 

Link para a Música: http://migre.me/81rmC The Subways - Strawberry Blonde

5 comentários:

Ingredh P disse...

"ninguém em sã consciência, troca um amor pela garantia de um par de meias roxas que nunca vai procurar"
Êta Luiza de Souza.. Muito lindo!

Isabella disse...

Como não amar esse texto? Muito lindo, Luiza.

@estamortomorreu disse...

Eu já disse que você toma meu coração toda vida que escreve? AFFFF LUIZA

Anônimo disse...

puta que pariu *.* (júiiia)

Anônimo disse...

Muito lindo!