domingo, 15 de abril de 2012

A Banda Mais Bonita da Cidade - Se Eu Corro...



Tem coisas na vida que eu nunca contei pra ninguém. Que nem hoje, sem nada, eu lembrei da primeira vez que você me disse "eu te amo". 

Daí você veio me tomando os freios, me tremendo joelhos, me jogando outra vez nesse alto-mar de medos irreparados, de oportunidades desaproveitadas, de esperanças que me foram tomadas. Você me trouxe toda a certeza de que eu vou passar a vida inteira duvidando de tudo. 

Com um xêro no cangote e um jeito de passarinho que não vai aprender nunca a migrar de mim, você me deu um anel vagabundo e me fez crer que tem alguém lá em cima pra cuidar de mim por você quando a gente tiver longe um do outro. Mas eu tenho medo. Depois de todo esse tempo eu continuo tendo medo que um dia tu acorde sem um pingo de saudade de mim, e disso pra nos esbarrarmos na rua, sem cumprimentos, feito dois estranhos, que nem duas pessoas que nunca se viram na vida, ah, como eu tenho medo. 

De perder meus cafunés de sábado à noite, de ligar pra ficar calada, de matar a saudade devorando uma tábua de carne sangrenta, porque a gente se merece. E se o mundo fosse como deveria ser, cê tava aqui agora, deitado no meu colo com cara de maior abandonado, com jeito de gente que não só precisa, mas tem que ser amado, com cheiro de banho tomado, perfume de criança e vontades de gente grande. 

Enfim, eu sinto sua falta. Você me faz falta. Não é nada demais, só deu saudade agora, só dá saudade o tempo todo, o dia inteiro. Mas faz de conta que eu não disse nada. Deixa fazer de conta, porque da boca pra fora dói menos - mesmo que ainda doa. Mesmo que a distância nunca pare de doer. 

Link para a música: http://migre.me/8H6et A Banda Mais Bonita da Cidade - Se Eu Corro...
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Obrigada pra você que acompanhou o #REDI até aqui. 
Sério, de coração. Agora uma nova etapa começa,
que venha o #PraNósROLA. Valeu mesmo.
Mais informações, siga: @luiza__, @NatyFarkatt, @eugeblancol, @VirginiaaMoon, @MilaaC0sta, @MariahHolder e/ou @annacluiza. 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

The Subways - Strawberry Blonde



Eu te fiz um pingente de clips de papel uma vez. 

Eram três clips amontoados uns nos outros de um jeito bonitinho, pra fazer você se apaixonar perdidamente por mim. 

E eu ia te contar meu amor quando entregasse o embrulho enrolado num laço de fita vermelho, e meu coração doía de bater tão rápido assim na vontade de ver o que ia acontecer quando eu fechasse seus olhos e dissesse que tinha uma surpresa pra você. 

Eu rezava toda noite pra que o seu amor pudesse ser meu também. Pra que você sorrisse e me desse um daqueles beijos épicos de fim de filme e não largasse de mim nunca mais, nem tirasse da correntinha de prata do seu pescoço o pingente que eu tinha te feito pra guardar nosso segredo. 

Gastei uma madrugada inteira queimando meus dedos pra modelar e colar clipzinho por clipzinho com o isqueiro velho que eu tinha roubado da senhora que vinha semana sim, duas não lavar a roupa na casa da vizinha. 

Ela sempre fumava no batentinho da calçada, aquele que tinha os nossos nomes gravados no cimento. Meia carteira de cigarros, uma xícara bem cheia de café fervendo e a velha mesma história sobre o moço garboso do cais, de mil anos atrás, a quem prometera um amor eterno em troca do par de meias roxas horrível que ele calçava. 

Semana sim, duas não - lá estava ela descançando as costas de uma tarde inteira lavando a roupa suja de gente que nem sabia seu nome, calçando as mesmas meias roxas nos pés. Porque o moço garboso do cais, de mil anos atrás, poderia ter voltado do mar e ainda estar procurando depois de todo esse tempo, o amor eterno que lhe prometera antes sequer de conseguir dizer seu nome. 

Tudo que ele tinha para encontrá-la eram suas meias roxas. Então eu pensei que a gente pudesse ter uma história que nem essa pra eu contar pros meus netos quando a saúde, ao contrário da saudade, já não abundasse tanto assim. E eu gastei uma madrugada inteira de sono num pingente - que nem era tão bonito, pra te ser sincera, que mal valia dez centavos - pro caso de um dia a gente se perder um do outro, eu poderia rodar o mundo um pescoço de cada vez, procurando a correntinha de prata que carregava meu universo todinho que eu entreguei de bandeja pra você ostentar. 

Mas você nunca recebeu o pingente de clips de papel. O embrulho enrolado no laço de fita vermelho nunca me saiu da mochila ou da lembrança. Nem eu consegui te fazer apaixonar perdidamente por mim. 

Porque na hora que eu tomei toda aquela coragem épica pra conseguir abrir a boca e te dizer pelo menos "Olá", cê chegou, todo lindo, me sorrindo aqueles dentes bonitos e retos, com a mão de outra moça segurando a sua, pra me dizer que tava namorando, pra me falar nas entrelinhas mas em letra de forma que nunca ia ser meu. Pra me mostrar que ninguém em sã consciência, troca um amor pela garantia de um par de meias roxas que nunca vai procurar - mesmo que eu continuasse colecionando clips de papel pra guardar o nosso segredo que foi só meu, pro resto da vida. 

Link para a Música: http://migre.me/81rmC The Subways - Strawberry Blonde

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Arctic Monkeys - A Certain Romance

Folhas em branco me acalmam, mas não tanto quanto seus olhos, posto que de todas as coisas que eu nunca entendi eles sempre foram a mais bonita. E desde então eu tenho achado que vejo você por entre todas essas páginas descalças de rabisco que eu encontro por aí, porque é você o rabisco que eu nunca aprendi a apagar da minha memória. 

Desenhado, de caneta imperecível, xerocado, divulgado, espalhado, colado nas paredes das ruas onde eu ando e provavelmente nas que eu não ando também. Escrito na minha testa, no jornal de domingo, na minha camisa, nos pães da padaria e na parede do meu quarto. E mesmo com certa aversão a esse tipo de coisa tão escandalosa, eu não me importo de ter o meu amor anunciado assim bem enorme no out-door da avenida principal, porque meu amor nunca teve vocação pra pixação de giz, meus "eu te amo" não vão apagar com o vento, nem tampouco com três mãos de Suvinil por cima. 

Então por favor, tome conta direitinho. Tem um milhão de lápis de cor na gaveta pra colorir nosso dia; pra quando eu voltar pra casa e você tiver se barbeado, na minha mochila tem sempre uma caneta preta e eu vou poder te desenhar aquela barba ralinha que arranha e eu gosto. E pra quando as coisas estiverem desarrumadas, me procure nas folhas em branco. Quem sabe elas te lembrem meus olhos e estes acalmem você também, daí a gente dá um jeito de arrumar essa bagunça toda juntos.   

Link para a música: http://abre.ai/bri Arctic Monkeys - A Certain Romance 

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Beirut - A Candle's Fire



Tinha um velho tocando o resto de sanfona que sobrou da noite passada no canto da esquina, um poste com a luz queima-não-queima e uma banca de flores, madrugando quieta, no domingo do outro lado da rua. Em passos meio tronchos, com a gravata num nó ainda mais troncho, o rapaz, sem sorrir, foi passando. Uma moça muito bonita, de vestido amarelo e maquiagem borrada, vinha do outro lado, com os cabelos bagunçados e os sapatos na mão. 

Ela resolveu sentar no meio-fio da calçada pra sujar de uma vez o vestido, respirar dois minutos e ver se engolia o choro tomando o resto de vódega da garrafa que trazia na outra mão. Ele sem pensar em nada, olhou pro velho sanfoneiro na esquina, tocando os restos de acordes soltos de fim-de-carreira, arrumou o nó da gravata e sorriu um triste e torto sorriso pra moça.

Cambaleou um pouco até conseguir levantá-la, segurou a mão dela e puxou pra dançar os passos meio-bêbados ao som daquela música que ninguém sabe o nome ou a letra mas todo mundo sabe qual é. A moça riu enxugando os olhos borrados daquela dor que não passava nem com Gelol, e foi trupicar com ele pela rua que ninguém sabia se o que iluminava era o sol nascendo ou se era a saia do vestido amarelo rodando tonta. 

- Chora não, menina. - O rapaz falou depois de uma meia-hora e tomou um generoso gole quando ela lhe ofereceu a garrafa. - Ele volta. 

- E se não voltar? Se ele não voltar mais nunca? 

- Se ele não voltar, eu fico. E fico pra sempre aqui do seu lado, dançando garrado enquanto amanhece. 

- E se ele voltar? 

- Se ele voltar, eu brigo, eu bato. Porque só um louco deixaria um par de olhos verdes lindos desses, no meio da rua numa madrugada qualquer. 

Eles pararam de dançar. Continuaram de mãos dadas. O velho da sanfona não parou, o poste apagou de vez. 

- Periga um bêbado esquisito com um coração partido, parar e se perder nesses olhos verdes lindos e até criar coragem de chamá-los pra dançar. 

- E se eu resolver ficar? 

O rapaz andou até a banca de flores dormidas e roubou uma da cor do vestido dela. 

- Se você ficar, eu me apaixono. 

- Só tem um problema. - A moça disse, voltando a calçar as sandálias, segurando a flor amarela e ouvindo a música parar. 

- Qual? 

- Se você se apaixona, quem foge sou eu. Tenha um bom dia.

Ela tomou o último gole da garrafa, beijou o rosto dele, depositou a flor no decote e seguiu seu caminho, deixando pra trás o rapaz. Com a barba e o coração por-fazer.

Link para a música: http://abre.ai/aQ0 Beirut - A Candle's Fire

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Ana Cañas - Luz Antiga


Às vezes eu só queria não ter que ligar primeiro. Não ter que falar que eu não tô bem, porque você já devia ter percebido. Eu queria que pelo menos desse pra ver que o seu tempo comigo é melhor do que com a tv, ou que você não insistisse tanto pra sempre ir embora tão rápido. Eu sei que eu pareço uma otária reclamona que nem essas outras mulheres no mundo as quais eu sempre fiz questão de criticar, mesmo quando elas são minhas amigas. Porque eu sei que eu já tô no lucro em ter encontrado alguém como você, mas eu queria que você se desse conta de que encontrou alguém como eu. 

Olha, eu sei que tenho muitos defeitos, eu falo, muito, mal ou bem, de todo mundo, de qualquer coisa. Não vou mentir! Mentira. Eu vou porque caralho, eu minto muito. Só que eu nunca menti sobre como me sinto, não pra você. Acredite, eu tento ser sempre a melhor namorada do mundo, mesmo quando eu tô com preguiça, ou com sono, ou estudando, ou com os meus amigos, porque eu me importo, porque você é uma das únicas pessoas no mundo com as quais eu me importo. Eu sei que posso ser manipuladora, insensível, incrivelmente aterrorizada pelo meu medo de cachorros, horrivelmente crítica com o seu gosto musical ou essa pulseirinha do equilíbrio horrorosa, mas mesmo eu sendo tudo isso você sabe que eu te amo, porque eu digo.

Às vezes eu queria que certas madrugadas de domingo durassem pra sempre. Como daquela vez que você me fez chorar de rir dizendo que me amava apesar das mordidas e beliscões - e eu não estava chorando de rir, eu só tava feliz por te ouvir dizer aquilo. E longe de mim achar que você não sente, por favor, nem pense nisso, eu só preciso que, desse jeito assim às vezes, você me diga. Porque estar longe dói. Eu brinco, digo que aguento bem, digo que a saudade é boa, mas essa é uma daquelas horas que eu minto, minto mesmo, minto muito, pra ver se tapa o buraco dessa falta do caralho que você me faz. 

Eu sei que eu devia parar de cobrar mimo, já que tem muita gente por aí hoje, todo mundo cheiroso e arrumado, afinal é noite de sexta-feira, procurando o que eu consegui encontrar por acaso, num teatro à céu aberto, enganchando o aparelho na minha camiseta cinza enquanto uma mulher avulsa caía dentro de um buraco, e eu não trocaria essas lembranças nem mesmo pelas barras de ouro do Silvio Santos, aquelas que valem mais do que dinheiro. O problema é que hoje eu tô carente, então eu só queria você, aqui, comigo, sem se importar com mais porra nenhuma no mundo além de mim ou do quão eu continuo ridicularmente apaixonada depois de todo esse tempo. 

Link para a música: http://migre.me/5I0EC Ana Cañas - Luz Antiga

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sabonetes - Marca Página


Você disse:

- Olá. Posso pegar esta cadeira? - Sem querer ou muito se importar e eu fiz que sim com a cabeça, tomando um gole do meu café de sempre, tentando não parecer afetada pelo seu tom de voz grave ou pelo sanduíche de presunto que você pegou na minha frente porque furou a fila. 

E eu poderia passar o resto da minha vida contando os fios sem corte da sua barba falha, e manchando seus óculos só de acinte, e segurando suas mãos sujas de tinta de caneta Bic prestes a papocar. 

Porque você fica aí com esse seu charme de menino perdido e seu tom de desgosto como quem já apanhou muito da vida, sentado à mesa mais escura daqui, escrevendo nesse bloquinho avulso como se mudasse o mundo e eu me derreto com o leve desespero que te toma conta quando cai uma gota de suco de cajá nele, apagando algum pedaço dos seus parágrafos de tinta que eu arrancaria minha orelha esquerda fora pra poder ler.

Ai rapaz, tu não sabe da missa a metade, mas também, com essa cara de sabe-tudo, provavelmente é ateu e nem sonha que eu comecei a acreditar que tem um deus por aí só depois que vi você. E nem imagina que eu venho nesta porra dessa padaria, todo santo dia, só pra te olhar sendo lindo com essas meias roxas, com esse enfado eterno e esse cabelo de toim-oim-oim de onde vem o cheiro de chiclete quando me dá "bom dia" e eu sorrio esperando um sorriso em troca.

Mais cedo ou mais tarde, quem sabe? Chegue você aqui, um buquê de esperanças numa mão e na outra aquele meu chapéu bonito que eu vou esquecer na sua casa. Porque tá na minha lista ir lá na sua casa e perguntar se eu posso pegar uma cadeira, uma xícara de açúcar, uma página desse seu bloquinho ou você - na torcida de que você prefira morenas. 

Quem sabe vem você e me aparece aqui qualquer dia, e me beija na surpresa de pedir um café pra nós dois, dizendo as mil e três coisas do seu dia cansado, do dentista da esquina e do conto novo que escreveu pra mim, sem esquecer de falar o quanto meus olhos são doces. Uma iludida ainda pode sonhar nessa vida, não pode?

Quem sabe eu finalmente crio coragem e digo o tanto que seu suco de cajá e a meia roxa me encanta, o tanto que seus rascunhos no escuro me encantam, o tanto que esse seu jeito calado de aparecer me espanta, e o tanto que me encanta e espanta o muito que eu amo você. Amo sim, e daí? Quem é você pra me dizer que não é? O amor nunca é rápido demais, as pessoas que inventaram esse mal-costume de se darem conta tarde.

Quem sabe meu rapaz, você me diz uma hora dessas, qual o sentido da vida pra alguém que nem eu, que leva a vida na espera de um sorriso de volta, seu.

Link para a música: http://migre.me/5E8d3 Sabonetes - Marca Página

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Beirut - Nantes


Ei, você. Vem cá me salvar desse mundo que anda meio cinza e triste, vem cá ser meu super-herói, me carinhar todo cheio de xêro, todo cheio de graça. Venha, menino, venha.

Venha me ensinar, que eu nunca aprendi, a dar estrelinha, tiro, murro e carinho. Me mostrar como que vê o mundo com olhos de águia, pra eu ter o prazer de estudar cada pedaço doce do seu corpo, debaixo dessa capa.  

Eu te conto os segredos escondidos no meu super-sarcasmo e você me deixa ver o que tem por trás dessa máscara. Eu te dou umas dicas pra parar de discurso pomposo sem a menor humildade e se você garrar essas teias aí tudo em mim, eu não terei uma objeção sequer a fazer parte da sua vida perigosa.

Eu te mostro o lado bom de ser vilão e você me diz qual a sensação de ganhar sempre. Aí então você faria de mim sua Mary Jane, Lois Lane ou Rachel Dawes - se eu quisesse. Venha, menino, venha que eu te dou todos os antídotos pra esses venenos chatos da rotina, basta você me deixar ser sua kriptonita.

Link para a música: http://migre.me/5Dgd0 Beirut - Nantes